Paro (1988) afirma que, como resposta
às reivindicações das classes populares por escolas, o governo implanta
projetos de escolas de tempo integral, cuja motivação é a tentativa de amenizar
os problemas sociais, além dos muros escolares, das classes populares, ainda
que estes problemas não tenham “natureza propriamente pedagógica”.
O autor evidencia o fato de que a ideia
de formação integral, no Brasil antecede à própria escola pública, e tem origem
nos internatos particulares criados para atender aos filhos das pessoas
abastadas que neles procuravam preservar seu status quo (PARO, 1988).
Segundo Arroyo (apud LUNKES, 2004), os
internatos particulares funcionavam em espaços isolados, com tempos integrais,
métodos específicos e nos moldes das instituições totais que, de acordo com Goffman
(1974, p. 16), são caracterizadas por um maior fechamento do que outras, ou
seja,
[...] seu ‘fechamento’ ou seu caráter
total é simbolizado pela barreira à relação social com o mundo externo e por
proibições à saída que muitas vezes estão incluídas no esquema físico – por
exemplo, portas fechadas, paredes altas, arame farpado, fossos, água, florestas
ou pântanos. A tais estabelecimentos dou o nome de instituições totais.
Com a crescente urbanização e
industrialização, essas escolas de elite deixaram de atender aos anseios da
classe mantenedora. “Dessa forma, ao invés de segregar os membros de suas
famílias, propõem, com base no ideário liberal-cristão, a segregação dos
dominados” (PARO, 1988, p. 207). Essa proposta de segregação da “ameaça social”,
pode ser vista nos “reformatórios de menores e as entidades ‘filantrópicas’
subvencionadas pelos órgãos oficiais” que, além de separar essa população do
corpo social, têm a função de reintegrá-las à sociedade (PARO, 1988, p. 207).
Em São Paulo, o maior exemplo dessa
segregação é antiga Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (FEBEM), criada no
ano de 1974. Esta fundação foi amplamente criticada pela mídia, pelos
diferentes organismos e instituições de proteção aos direitos humanos, enfim,
pela população em geral, por abrigar muitos adolescentes em um espaço reduzido,
em regime fechado, nos mesmos moldes de uma prisão para adultos e com todas as
suas mazelas.
Com o título “O pacote FEBEM” (2005), o
editorial da Folha de S. Paulo explica bem a situação: Apesar do longo atraso,
é bem-vindo o pacote anunciado pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin,
para reestruturar a FEBEM. Sintomaticamente, o plano veio a público em meio a
uma onda de revoltas na instituição. Desde janeiro, ocorreram 20 rebeliões, com
fuga de 881 internos.
Para efeito de comparação, no ano
passado contaram-se 28 motins e 993 fugitivos [...]. Assim, diante das críticas
recebidas, o governador Geraldo Alckmin, que pleiteava, nas eleições de 2006,
alçar a presidência da República, optou pelo desmonte da FEBEM, cujo início foi
dado pela demolição, no dia 29 de março de 2006, do Complexo do Tatuapé, com
capacidade para 1200 adolescentes. Para substituí-la, o governo inaugurou, em
27 de março de 2006, em Campinas, as duas primeiras unidades da Fundação
Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (CASA), ligada à Secretaria
da Justiça e da Defesa da Cidadania. Paro (1988, p. 206-207), ao analisar a
função educativa dessas instituições assistenciais, afirma que: se as
entidades assistenciais, por incapacidade de assumir o papel de instituições educativas,
não conseguiram “socializar” as crianças oriundas das classes dominadas e, por
isso, viram-se impossibilidades de “reintegrá-las” à sociedade, então cabe à
escola de tempo integral, assumindo essas crianças, cumprir esse papel.
Podemos, então, inferir que o projeto
Escola de Tempo Integral foi criado, nesse contexto, como outra possibilidade,
para além da CASA, de cercear o grave problema do ato infracional cometido por
adolescentes, com ações preventivas, educativas e de tutela.
Quase todos os entrevistados perceberam
este viés da função da escola, conforme demonstramos abaixo, com o excerto de
uma entrevista: Por que você acha que a Escola de Tempo Integral foi criada?
Pra sanar uma situação social, de certo abandono das crianças em certo período
do dia. A criança que estudava à tarde, de manhã não tinha o que fazer.
O pai precisava sair pra trabalhar. Eu
creio que tenha sido isso, um problema social, que trouxe a escola de tempo
integral [...] mas eu acredito que seja um problema social que está sendo, não
sanado, mas existe certo paliativo aí social com a Escola de Tempo Integral
(Professora e Coordenadora). Lunkes (2004, p. 6) conclui que a escola de tempo
integral “se localiza no extremo social oposto àquele de sua origem, tanto no
que se refere à clientela como à mantenedora”, uma vez que antes as escolas de
tempo integral eram particulares e visavam à educação das elites, sendo por
elas mantidas e, agora, há, também, escolas de tempo integral que são públicas
e visam à educação das classes populares.
Tanto a função educativa como a de
guarda, do projeto Escola de Tempo Integral, são frutos de políticas públicas
sociais advindas do Estado capitalista democráticas. Temos nos defrontado, em
vários momentos e espaços, com certa visão de políticas públicas, especialmente
as sociais, que imediatamente nos remete a uma concepção de política
‘reparadora’, ‘de ampliação de acesso’, que interferiria no campo das
desigualdades e divisões sociais e cuja aplicação provocaria transformações sociais
e criaria um mundo melhor.
Fonte:
http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v19n71/a03v19n71.pdf
Postagem de Yasmim Arruda.
Paro (1988) afirma que, como resposta às reivindicações das classes populares por escolas, o governo implanta projetos de escolas de tempo integral, cuja motivação é a tentativa de amenizar os problemas sociais, além dos muros escolares, das classes populares, ainda que estes problemas não tenham “natureza propriamente pedagógica”.
Tanto a função educativa como a de
guarda, do projeto Escola de Tempo Integral, são frutos de políticas públicas
sociais advindas do Estado capitalista democráticas. Temos nos defrontado, em
vários momentos e espaços, com certa visão de políticas públicas, especialmente
as sociais, que imediatamente nos remete a uma concepção de política
‘reparadora’, ‘de ampliação de acesso’, que interferiria no campo das
desigualdades e divisões sociais e cuja aplicação provocaria transformações sociais
e criaria um mundo melhor.
Fonte:
http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v19n71/a03v19n71.pdfPostagem de Yasmim Arruda.
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